Midas era um rei lendário da Frígia, na Ásia Menor. Um dia, quando Dioniso, deus do vinho, da inspiração e do delírio místico, passava pela região, um dos membros do seu séquito permanente, o sátiro Sileno (os sátiros eram seres da natureza, metade homens, metade bodes) perdeu-se da companhia, pois ficou a dormir, muito embriagado. Um grupo de camponeses que o encontrou levou-o ao rei Midas, que o reconheceu, pois era um iniciado no culto de Dioniso, e o acolheu na sua corte, com todas as mostras de franca hospitalidade. Depois foi ele próprio acompanhá-lo até junto do deus. Em recompensa, Dioniso prometeu a Midas satisfazer-lhe um desejo, qualquer que ele fosse, e o rei pediu que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro. A satisfação de Midas não podia ser maior ao começar a pôr em prática a sua nova capacidade! Mas a alegria foi de pouca dura, pois, quando sentiu fome e quis comer, todos os alimentos em que pegava se transformavam em ouro e ele não os podia engolir. O mesmo se passava com a água e o vinho. Cheio de fome e de sede, já sem forças, Midas implorou ao deus que lhe retirasse o dom concedido e o deixasse voltar ao estado normal. Dioniso condescendeu e mandou-o ir purificar-se na nascente do rio Pactolo. Midas assim fez: o ouro passou para as águas do rio e ele ficou curado.
O rei Midas é também protagonista de outro episódio mítico muito conhecido. Havia uma disputa entre Pã e Apolo sobre quem produzia a música mais bela, se a flauta de Pã, se a lira de Apolo. Dos juízes chamados a escolher o vencedor, só Midas declarou que Pã era o melhor músico, pelo que Apolo, enfurecido, fez com que nascessem ao rei umas orelhas de burro. A partir daí, Midas procurava, de todas as maneiras possíveis, esconder os seus novos apêndices auriculares, ocultando-os sob diademas e coroas. Só o escravo encarregado de o pentear conhecia o seu segredo, mas estava, sob ameaça de morte, proibido de o revelar. O segredo era, todavia, muito pesado e difícil de guardar. Por isso, o pobre homem foi para um sítio isolado, fez um buraco na Terra, para dentro do qual sussurrou que o rei Midas tinha umas enormes e medonhas orelhas de burro. Depois tapou o buraco e foi-se embora. Dentro em pouco, nasceram uns caniços, nos quais o vento batia, produzindo som. E eles puseram-se a repetir o segredo – o rei Midas tem orelhas de burro – espalhando-o pelos quatro cantos do mundo.