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O enigma de Ulisses – O dia seguinte

Os amigos encontram-se no largo, como de costume. No entanto, naquela manhã de julho, não sabem bem o que fazer ou pensar.

— Vá, vamos até lá! — insiste Pedro.

Os outros entreolham-se, na dúvida. Zé assente, concordando com a sugestão do mais novo.

Apanham o metro e, algum tempo depois, estão os cinco sentados nos degraus de pedra.

Pedro brinca:

— Vejam lá se hoje ninguém escorrega!

Desta vez, é de manhã cedo. A cidade ainda está a despertar. Só as gaivotas parecem ter estado a voar sem parar sobre o Tejo desde a última vez que ali estiveram.

— Ufa!!! — suspira Mel. — Desta vez, a aventura foi mesmo surreal!

— É sempre surreal! — responde apressadamente Pedro.

— Tens razão. Para ser mais precisa, devia dizer que a aventura mais recente é sempre a que me parece mais surreal.

— Claro! Ainda mal recuperámos! — diz Alice, que se mantivera calada, a olhar para o rio, ao mesmo tempo que o António espirra.

— Não estão a ver que ainda não recuperámos? — diz Pedro, apontando para o António e fazendo todos rir.

Alice sorri, mas não consegue afastar os seus pensamentos de tudo aquilo, sobretudo não se sentindo confortável com o facto de não conseguir perceber quem é a mulher de vermelho.

Zé pensa o mesmo. Percebe o silêncio da irmã e segreda-lhe ao ouvido:

— Um dia havemos de perceber quem ela é e o que a fez aparecer ali, de barco. Prometo!

A rapariga sorri e encosta-se ao ombro do irmão.

Mel percebe que é altura de estar calada, o que muito lhe custa! Vê um cacilheiro ao largo e também os seus pensamentos fogem para mais longe. Pensa nos poderes de cada um, pois ela própria ainda tem dúvidas sobre o que os faz atuar. Olha para o seu cinto. Ali, à luz da manhã, é, na realidade, lindo. Mas a rapariga não percebe como surge aquela força que a arrasta nem percebe por que motivo só às vezes Pedro se consegue transformar ou de onde surge aquela estranha intuição de Alice. É da coruja? Sim, mas como?

António olha para o amigo e para a irmã. O rapaz também não esquece as palavras da mulher de vermelho. Tudo leva a crer que ela está contra eles. Levou Midas, disse-lhes que este não tinha sabido cumprir a sua missão e, por último, enquanto se afastava, lançou-lhes uma espécie de ameaça. «Na próxima não terão a mesma sorte», recorda o rapaz. Ou seria antes um aviso?

É Pedro que desperta desses pensamentos os restantes quatro. Levanta-se de súbito e, preparando-se para começar a correr, desafia os outros dizendo:

—  Ei! Viemos aqui para confirmar que esta cidade maravilhosa está toda de pé, que o rio continua aqui no mesmo sítio, que nada foi destruído e que o arco permanece ali atrás a olhar para nós!

— Vem aí uma ideia qualquer — diz Mel, levantando-se, mais entusiasmada do que aborrecida por lhe terem interrompido os pensamentos.

— Vá, despertem lá! O último a encontrar o Ulisses no arco é um ovo podre! — remata o rapaz, começando a correr em direção ao Terreiro do Paço.